quinta-feira, 12 de agosto de 2010

O Expresso /também) faz política linguística

"EDITORIAL: Adotar um acordo

A forma de escrever palavras, a que se dedica a ortografia, não nos porá todos a falar, ou sequer a escrever, do mesmo modo. Mas é uma forma de projetar o nosso idioma

O Expresso, costumam dizer os seus leitores e até os seus mais ferozes críticos, é uma instituição. Embora recusemos essa classificação, no que ela tem de mais institucional, agradecemo-la naquilo em que se refere ao nosso esteio de credibilidade. É, pois, esta instituição, melhor diremos este jornal, que doravante adota o acordo ortográfico.

A nova ortografia entra nestas páginas polémicas à parte. Não queremos com isto significar que o acordo é bom, nem sequer o adotamos por não termos outra hipótese senão fazê-lo. Do nosso estatuto editorial faz parte a defesa da língua portuguesa e é, tão somente, nessa perspetiva que nos colocamos. Consideramos que o português, que nos liga em cinco continentes e é no fundo a nossa pátria, como escreveu Pessoa, fica a ganhar se houver alguma unificação ortográfica, ainda que modesta.

Mas uma consideração de ordem mais prática nos leva a adotar o acordo. Em breve, assentes as ondas da polémica, escrever uma palavra com a grafia que aprendemos na escola parecerá tão desajustado como utilizar as grafias com que Eça e Camilo (para não ir mais longe) escreveram as suas obras literárias. Por exemplo, este título. Se daqui a um ou dois anos escrevêssemos adoptar causaríamos uma estranheza significativa. Seria como agora escrevermos pae ou mãi, a ortografia de antes de 1911.

O Expresso pretende-se um jornal com um grande passado e com um grande futuro. Não poderia ficar agarrado a um conceito por razões de mero conservadorismo ou por alguns dos seus redatores preferirem escrever da forma que aprenderam."

Editorial publicado na edição de 26 de Junho de 2010

O Jornal Expresso aproveita ainda para explicar as principais alterações: ver aqui.